Lenda de São Torpes, Santa Celarina e do primeiro templo cristão da Europa.
A lenda diz que o corpo lançado ao Arno atravessou meio Mediterrâneo e parte do Atlântico para vir parar a Sines, à costa da Junqueira-Provença [1], no ano de 67.
A lenda tem três versões: 1) a cabeça deu à praia portuguesa e o corpo à praia francesa de Saint Tropez, na Provença – a relação com os topónimos portugueses é evidente; 2) o inverso; 3) a Junqueira recebeu o corpo todo.
Consta que a cabeça do santo está actualmente no mosteiro dos frades mínimos de São Francisco de Paulo, em Itália.
A interveniente feminina da lenda é Celarina (ou Celerina, ou Catarina), uma mãe de família romana, víuva de um governador. Quando o marido morre, retira-se de Évora para Sines. Um anjo avisa-a em sonhos para ir receber o corpo do mártir à praia. Encontra-o na jangada de junco, velado pelo cão e pelo galo.
A parte com interesse histórico da lenda começa aqui. Sobre um corpo santo ou não, terá sido erguido em Sines um dos primeiros templos cristãos da Europa?
Celarina sepulta o cadáver junto da ribeira da Junqueira. Informado por ela, São Manços, bispo de Évora, manda erigir uma basílica no local [Arnaldo Soledade].
Vários autores medievais e modernos referem a existência e falam da importância do templo (Gerfou, Santo Andou, Usuardo, etc.). Alguns descrevem, inclusivamente, as suas qualidades arquitectónicas e artísticas. Muitos colocam-no na posição de primeira igreja cristã europeia (em competição com uma igreja em Saragoça e outra em Avinhão).
Vítor Torres Mendonça, n'"A Jangada de São Torpes", acha pouco crível que o templo tenha existido no local indicado.
José Leite de Vasconcelos acredita que se tomou pelo templo o dólmen da Junqueira.
A ter existido, são apontados dois agentes possíveis para o desaparecimento da igreja: os Bárbaros e os Mouros.
No final do século XVI, o Papa Sisto V ordena ao arcebispo de Évora que se certifique da existência das ossadas do mártir São Torpes na Junqueira-Provença. É descoberto um túmulo de mármore com um esqueleto humano, mas sem cabeça. Uma lápide certifica a autenticidade dos ossos.
As mesmas escavações descobrem um crânio – os trasladores afirmam ser de Celarina.
Um século depois, os ossos são removidos para a Igreja Matriz.
Ao longo dos anos, os devotos vão levando, cada um, a sua costela – e as relíquias, de São Torpes ou não, acabam nos altares domésticos dos sineenses.
Uma ermida erguida a Celarina na ponta leste de Sines, à beira-mar, ainda está de pé no século XVIII. Mas já não no nosso. Em 1969, o historiador Arnaldo Soledade identifica algumas pedras na casa de um particular.
[1] O lugar de São Torpes tem outra lenda. Onde agora existem dunas, houve uma aldeia que, certo ano, uma chuvada de areia soterrou; oito dias depois da tempestade, um galo ainda cantava debaixo da terra.
in http://www.mun-sines.pt/concelho/PC-lendas.htm#Lenda%20de%20S%E3o%20Torpes
Thursday, June 14, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment