Encontrava-a no restaurante da Choupana, sempre acompanhada pelos cães pastores alemães. Era amiga do arquitecto que desenhou a minha casa de Milfontes. Nunca soube onde morava, mas eu imaginava que era junto do canal e das rochas, num lugar guardado pelos pastores alemães...Qual Cérbero guardião dos infernos!...
Esta mulher que tanto podia ser professora, como médica, como arquitecta ou até escritora tinha um riso bem alto, que eu julgava que era o riso de uma bruxa. Muito procurada pelos alunos mais velhos do colégio, para explicações (?) , nos finais de tarde lá estava ela, no café Paraíso ou na Choupana, a absorver o ar marítimo e a olhar para ocidente, bem longe, no mar. Tinha um caderno ou bloco de notas e ia apontando coisas, enquanto os "aprendizes de feiticeira" não chegavam...
Associava-a às caravanas de hippies alemães encostadas à berma, na praia de Milfontes, com aqueles desenhos coloridos de flores e símbolos anarquistas...
Geralmente os portugueses, com os seus preconceitos e ignorância, vêem os alemães como nazis e conservadores, mas muitos dos alemães descontentes com o neoliberalismo e autoritarismo da Alemanha vieram para cá, em busca de um paraíso a sudoeste...Uns vieram em busca do Graal. Outros vieram estudar a flora do litoral. Outros vieram dar aulas de línguas. Outros ainda vivem cá de uma maneira despojada, sem compromissos nem angústias. Esses pesadelos ficaram todos lá na Alemanha.
A alemã deve continuar por lá ou já deve ter ido para outro lado...Mas a imagem de uma mulher forte com óculos de intelectual, quase gigante e muito misteriosa mantém-se na minha memória. Os cães, esses, já devem ter desaparecido e as sombras ainda se devem ver junto ao farol, para quem estiver bem atento aos pequenos pormenores, quando o pôr-do-sol chega àquelas paragens...
Thursday, February 7, 2008
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